terça-feira, 22 de setembro de 2009

Poesia

Olá pessoal!

Uma poesia feita na madrugada, pensando a vida e a morte. A violência e tudo o mais.

Dedico a poesia a Orannes que descança em paz. E a todos que viveram a morte de forma semelhante. Alerto aos que ficaram: Não se esqueçam!

Não morrerá
(Daniel Mariano)
Muitos fazem questão de esquecer,
outros querem que todos esqueçam,
mas eu não.

Não quero esquecer que ele foi morto.
Muito menos fingir que está tudo bem!
Por favor, me lembre sempre o que aconteceu,
assim, crescerei e poderei evitar que outros jovens, como meu amigo, sejam mortos,
assim, poderei reparar um pouco a falha que cometi em não amar, o meu amigo, o suficiente.

Ele não morreu! Foi morto!

Eu o amei... Mas não foi o suficiente... Acabei chorando a sua morte!
Apenas depositei uma flor e chorei, o enterrei.

Mas em minha mente ele está vivo!
Lembro de seu sorriso,
de sua meiguice,
de seus sonhos,
eu lembro...
me lembro muito bem desse amigo que partiu,
mas vive em minha memória.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O valdecismo: método prático e racional de espancamento educativo intrafamiliar

(Epígrafe. "Mais sofreu nosso tio Judas" Macunaíma)

Michel Foucault escreveu a História da Loucura e a história da violência nas prisões, em Vigiar e Punir. Esse filósofo francês deveria antes ter escrito a HISTÓRIA DA VIOLENCIA NAS FAMÍLIAS, cuja primeira parte inicia-se aqui. A violência nas prisões e a origem da loucura são, muitas vezes, etapas posteriores e consequentes à violência na infância e na família. Segundo o padre Guimarães, que veicula suas idéias pela rádio Joven Pan de São Paulo, “ a família é o berço de tudo”. Embora acrítico e apologético, diz bem o padre, mas deveria deixar mais claro a possibilidade implícita de a família ser, além do bem, o nascedouro, a geradora de tudo que não presta, sobretudo na fase em que a criança está se constituindo como sujeito e desenvolvendo suas formas psíquicas, físicas, sua história de vida humana, em fim, sua visão de mundo a partir de seu pequenomundo, seu microcosmo, numa fase, para ela, muito decisiva. A HISTÓRIA DA VIOLÊNCIA NAS FAMÍLIAS inicia-se aqui pelo Valdecismo, método claro e efetivo de educação espancativa e, ao mesmo tempo, um sistema complexo e enraizado sob o aspecto doutrinário, religioso e cultural. No entanto, o valdecismo, desenvolvido por D. Valdeci e Seu Joaquim, cujas características próprias serão denominadas aqui por joaquinistas, possuem aspectos de um método e de uma prática muito peculiares que se distinguem de outras formas de violências infantil e familiar. Não se contenta na possível inflexibilidade de um pai burguês escolher a profissão dos filhos, impor um time de futebol ou incutir na educação dos filhos aspectos xenófobos ou uma opinião inflexível, ditada de modo autoritário e com voz desmedida, que já são por si práticas condenáveis. O valdecismo/joaquinismo vão muito além, atingindo formas aparentemente ritualísticas de violência, devido a sua natureza e a sua sistematicidade. Até hoje, esta questão da violência na educação e na família, a pesar de sua emergência, tem sido mascarada na sociedade, em seus meios de comunicação e ausente nos currículos escolares, sendo desviada para outros assuntos. Algumas seitas, quando não fecham os olhos para esta questão, trata-a como demoníaca, ou seja, afasta o problema para um plano extraterrestre, anulando sua real discussão e solução. Já a sociedade, ou boa parte dela, arremete-a para questões de regionalismo, alcoolismo, pobreza, menoridade penal etc, sem enfrentar efetivamente o problema.

PRIMEIROS EXEMPLOS DO VALDECISMO

Os criadores do valdecionismo tiveram vários filhos, homens e mulheres, com pouca idade de diferença, o que era chamado de “escadinha”. Socialmente freqüentavam a igreja Assembléia de Deus na periferia de São Paulo, mesmo antes do primeiro filho nascer no início de 1970. Ela cuidava da casa, ele trabalhava fora, sem formação profissional e com poucos anos de escolaridade, e servia na igreja, onde chegou a presbítero. Todos os filhos frequentaram a escola desde cedo e ajudavam a manter a casa, mesmo antes dos dez anos, trabalhando nas adjacências em serviços informais, como vender ferrovelho, carregar material de construção para os vizinhos, vender pipocas na rua, e alguns deles, aos catorze anos, já possuíam registro em carteira como office boy no centro de São Paulo. Mas era no interior da pequena casa que se exercia o sistema de educação denominado acima, em horários irregulares, seja pela mão de d. Valdeci, de dia, ou de seu esposo, no turno da noite, antes ou depois da ida à igreja. Como uma batuta de maestro, havia ali um instrumento de "correção" que era uma grande borracha, cunhada pela expressão joaquinista de “borracha da amazônia”, que industrialmente servia para sustentar a almofada dos sofás e o peso das pessoas que faziam uso deles para se sentar. Essa borracha, que continha pequenos arames para resistir o peso das pessoas que usassem o sofá, ficava pendurada em um prego do lado de dentro da casa, ao lado da porta de entrada, num lugar alto, à mão de quem entra ou sai da casa. Ficava ali continuamente, aos olhos de todos. Se eventualmente desaparecesse dali, todos os meninos eram responsáveis e passivos de "correções" ampliadas. Por isso, a grande borracha continuava sempre ali aos olhos deles, em advertência prévia e contínua e com suas consequências psicológicas. Uma pesquisa poderia ser proposta a outros pesquisadores sobre que mão pesa mais nesse sistema de educação violenta, se a masculina ou a feminina; lembrando que muitas vezes elas se uniam sobre o corpo um mesmo educando. Mas a resposta deverá variar por questões sensoriais e pela capacidade de suportar de cada um que passe pela grande borracha, a chamada “borracha da amazônia”. Mas decisivo mesmo é o método utilizado no ato de usar a borracha. Um exemplo do valdecismo é o seguinte: A mãe faz com que o menino tire a camisa, deita-o no chão, pisa com um dos pés o pescoço dele e com a grande borracha, dá-lhe a correção nas costas. Não há explicação detalhadas, não há conversas explicativas ou orientações específicas, nem antes, nem depois. Mas há outros elementos específicos do valdecismo (o aspecto seguinte é específico de d. Valdeci), que são aplicados verbalmente. Durante o subir e descer da “borracha da amazônia”, a mãe solta sabedorias bíblicas e religiosas em um tom melódico, como pergunta e resposta, que devido à impossibilidade do menino que está com o pescoço preso sob seus pés de responder, ela mesma responde. Um versículo muito repetido era o seguinte “PARA QUEM OS VERGÕES DOS AÇOITES? PARA AS COSTAS DO TOLO”. Quando a resposta era exigida e assim mesmo o menino não respondia, o ritmo da melodia e simultaneamente a velocidade da borracha aumentavam. Diante de seu dever, o menino então soltava sua resposta em grunhidos ou gemidos. Quando alguns dos “espertinhos” procuravam se esquivar da correção gritando antes da hora “ não mãe”! “não mãe”!, ou respondia prontamente os versos da bíblia, que já conheciam como teólogos, uma resposta autêntica, vinda da alma era exigida prontamente com o aumento da velocidade da borracha.

O BANHO DE ÁGUA E SAL

Depois de passarem pela "correção" da grande borracha, havia o banho de água e sal. O banho de água e sal é uma outra especificidade do valdecismo, ou seja, não era um costume joaquinista. Este elemento próprio desse sistema, ao que parece nada tem haver com o “corredor de sal grosso” praticado em algumas igrejas neopentecostais brasileiras. Não é rejeitável, no entanto, alguma coincidência. Nessas igrejas tal ato, ou a passagem da pessoa pelo corredor serve para (segundo a crença) tirar dela o mal. Já no valdecismo não há nada muito claro, pois, os meninos tomavam o banho de água e sal sozinhos numa grande bacia de alumínio e, portanto, não havia músicas cujas letras esclarecessem este ponto. Na hora do banho de água e sal, geralmente, o único som era de choro. Agora, no campo da hipótese, pode ser que o referido banho fosse usado para tirar algum mal. Qual seria esse mal é um outro aspecto digno de pesquisa. Aqui lembrarei apenas os “vergões dos açoites” da sabedoria bíblica usada na hora da aplicação da borracha amazônica. O “maravilhoso” bem desse típico banho, assim, seria o rápido sumiço dos vergões dos açoites, que o sal provoca. Isto traria no mínimo duas vantagens: são elas, o sumiço dos vergões dos açoites e o pronto restabelecimento do “borrachado” para outra seção corretiva. Com o sumiço dos vergões, aliás, não haveria nada o que temer de pessoas e autoridades fora da casa. Se essa hipótese se verifica como possível, poderíamos chamar o valdecismo de maquiavélico no mesmo sentido que a igreja atribui ao que se refere a Maquiavel. O posterior banho de água e sal junto com o ato da educação pela borra, com o filho preso sob o pescoço, regado pela melódica sabedoria bíblica em forma de pergunta e resposta, lembra certos aspectos ritualísticos de regimes sem civilização que no entanto não será investigado aqui.


DANOS E RESPONSABILIDADES

Uma das pessoas alvo deste sistema é o hoje escritor e professor Elói Alves, formado pela Universidade de São Paulo, que aos doze anos de idade saiu de casa. Para sorte sua, foi morar com uma família amiga e acolhedora, com quem trabalhava. Uma palavra de ordem neste sistema era expressão “desocupa” usado por seu Joaquim, para ordenar a retirada definitiva de casa para alguém, no caso os filhos (ordem a qual sua mulher nunca se opunha). Um outo filho que ouviu esta palavra faleceu no nordeste brasileiro pouco tempo depois de sua partida. Este sistema de violência e suas formas ideológicas precisam não apenas ser esclarecido e denunciado socialmente, mas é preciso também acionar judicialmente a responsabilidade das instituições que permitem que atitudes violentas e criminosas façam parte de seu meio, de sua doutrina e revestem de autoridade institucional e hierarquicoeclesiástica pessoas como seu Joaquim, presbítero das Assembléias de Deus do Brás, que disfarçam suas ações com discursos religiosos igualmente autoritários e que auxiliam a encobrir socialmente suas práticas violentas e criminosas. Esta negligência e o silêncio das instituições diante dos atos criminosos daqueles que as servem colaboram com eles, os viabilizam e lhes são coniventes.
PRÓXIMOS TEMAS:

HEREDITARIEDADE DA VIOLÊNICA FAMILIAR: IMPLICAÇÕES CULTURAIS
a.OS QUE ROMPEM COM ELA
b.OS QUE A MANTÉM
A PALAVRA DE ORDEM “DESOCUPA” SEGUNDO O JOAQUINISMO
FALSAS CONCEPÇÕES DA VIOLÊNCIA FAMILIAR:
a.A VIOLÊNCIA ATRIBUÍDA A NORDESTINOS
b.A VIOLÊNCIA E ANALFABETISMO
c.VIOLÊNCIA E ALCOOL
A INTOLERÃNCIA NA IGREJA E NA FAMÍLIA
DOUTRINA RELIGIOSA E VIOLÊNCIA
A LEI DA EDUCAÇÃO (LDB) E A INTOLERÂNCIA COMO DESREPIEITO A ELA
REGIMES TOTALITÁRIOS E O TOTALITARISMO NA FAMÍLIA
A PSEUDO (FALSA) SACRALIDADE DA FAMÍLIA
O REDUCIONISMO ACADÊMICO, DA OPINIÃO PÚBLICA E POPULAR